Deprecated: strpos(): Passing null to parameter #1 ($haystack) of type string is deprecated in /home1/cien1832/public_html/wp-includes/functions.php on line 7241

Deprecated: str_replace(): Passing null to parameter #3 ($subject) of type array|string is deprecated in /home1/cien1832/public_html/wp-includes/functions.php on line 2187

Deprecated: version_compare(): Passing null to parameter #2 ($version2) of type string is deprecated in /home1/cien1832/public_html/wp-content/plugins/elementor/core/experiments/manager.php on line 166
EMOÇÕES AGRADÁVEIS - Paul Ekman - Ciência Contemplativa

EMOÇÕES AGRADÁVEIS – Paul Ekman

Emoções Agradáveis

Paul Ekman

Loretta Stirm e seus filhos esperavam pacientemente na pista de pouso da base da Força Aérea de Travis enquanto um grupo de membros da Aeronáutica desembarcava do avião que os tinha levado de volta aos Estados Unidos. Como era o oficial superior, o tenente-coronel Robert Stirm, recém-liberto do campo de prisioneiros de guerra, no Vietnã, teve de fazer um pequeno discurso antes que as famílias pudessem se reunir. Sua família continuou esperando. Sal Vader, o fotógrafo que ganhou um prêmio Pulitzer por essa foto, escreveu: “Quando ele terminou o discurso, observou ao redor e viu sua família projetando-se em direção a ele, com os braços estendidos, sorrisos ardentes em uma verdadeira explosão de alegria”. Alegria é uma palavra melhor que satisfação para a emoção dessa foto, pois denota mais intensidade que satisfação ou felicidade. No entanto, como essas palavras, a palavra alegria não nos diz precisamente que emoção agradável foi sentida.

Acredito que existem mais de uma dúzia de emoções agradáveis, todas universais e diferentes, tais como as emoções de tristeza, raiva, medo, aversão e desprezo são. Da mesma forma que há um conjunto de emoções distintivas, que nós, em geral, não gostamos de sentir, há um conjunto de emoções distintivas que gostamos de sentir. O problema com as palavras satisfação e felicidade é que elas são específicas; implicam um estado único de espírito e sentimento, da mesma forma que as palavras perturbação e negativo não revelam se a pessoa está triste, zangada, amedrontada ou enojada. A língua inglesa não possui palavras individuais para todas as emoções agradáveis descritas aqui.

Assim, peguei palavras emprestadas de outras línguas para expressar algumas importantes emoções agradáveis que sentimos.

Ainda não sabemos muito a respeito das emoções agradáveis, pois quase todas as pesquisas dedicadas às emoções, inclusive a minha, enfocaram principalmente as emoções perturbadoras. A atenção se concentrou nas emoções que causam problemas a nós e aos outros. Por isso, sabemos mais a respeito do distúrbio que saúde mental. Isso está começando a mudar, pois há uma nova ênfase sobre as emoções positivas. Acredito que podemos nos beneficiar muito sabendo mais a respeito das emoções agradáveis, já que são tão fundamentais para nos motivar.

Comecemos com os prazeres sensoriais. Há coisas agradáveis de tocar, e ser tocado pode nos causar uma sensação muito agradável, especialmente quando o toque é de alguém por quem nos interessamos e feito de forma sensual ou carinhosa. Há visões agradáveis de contemplar, como um belo por do sol. Há sons prazerosos, como as ondas do mar, a água correndo nas pedras em um riacho, o vento nas árvores e uma grande variedade de músicas. Consideramos os gostos e cheiros, em parte, quando abordamos a aversão, mas os doces são saborosos para a maioria das pessoas, enquanto a capacidade de apreciar os gostos azedos, amargos ou condimentados parece ser adquirida com o tempo. O cheiro da deterioração é ruim para a maioria, mas alguns queijos muito apreciados têm o que se considera um cheiro terrível. Suponho que há alguns temas universais e diversas variações aprendidas para cada um dos cinco prazeres sensoriais.

Não se sabe ao certo se os prazeres sensoriais são apenas rotas diferentes para a mesma experiência emocional, e, portanto, devem ser considerados uma única emoção, ou se devemos considerá-los cinco emoções diferentes: visual, tátil, olfativa, auditiva e gustativa. Algum dia, a pesquisa solucionará a questão, determinando se cada um dos prazeres sensoriais difere em suas sensações subjetivas, nos sinais mostrados aos outros e nas mudanças fisiológicas que os caracterizam. Por enquanto, tratarei os prazeres sensoriais como emoções diferentes, pois meu palpite é que essa pesquisa revela que, sim, eles são diferentes e que não é só no órgão sensorial que o prazer está envolvido.

Meu mentor, Silvan Tomkins, não considerou os prazeres sensoriais como emoções. Para ele, uma emoção pode ser ativada por quase qualquer coisa, e cada um desses prazeres está restrito a apenas uma fonte sensorial. Isso não é convincente para mim, pois, dentro da cada uma das fontes sensoriais, como o som, há inúmeros gatilhos diferentes. Embora alguns sejam universais, muitos não são, já que gostos, visões, cheiros, toques e sons muito diferentes geram prazer através das culturas.

As psicólogas Barbara Fredrickson e Christine Branigan também sustentaram que os prazeres sensoriais não devem ser considerados emoções, mas levantaram uma objeção diferente. Segundo elas, os prazeres sensoriais simplesmente acontecem para nós sem requererem avaliação. Se não há avaliação, não há emoção. Discordo, pois muitas emoções negativas geralmente aceitas podem ser ativadas por eventos sensoriais imediatos. O prazer automático que se sente ao ver um por de sol envolve menos avaliação que medo instantâneo de cair da cadeira ou de um carro que vem, de repente e em alta velocidade, a nosso encontro, quando atravessamos uma rua? Não acho. Além disso, a maior parte do que nos proporciona prazer sensorial, seja pela visão, audição, paladar ou olfato, e, em menor grau, pelo tato, são gatilhos aprendidos, muitas vezes envolvendo avaliações estendidas. O prazer sentido quando vemos uma pintura abstrata de Picasso não é desprovido de processos avaliatórios. Os prazeres sensoriais são agradáveis. Não vejo, portanto, nenhuma razão para não considerá-los emoções.

A diversão é uma das emoções agradáveis mais simples. A maioria de nós gosta de ser entretido por algo divertido; alguns de nós somos muito divertidos, contando piadas com desenvoltura. Grande parte da indústria do entretenimento dedica-se a produzir essa emoção e, assim, podemos facilmente escolher quando queremos ser entretidos. A diversão pode variar de intensidade, com risadas estrondosas e até lágrimas.

Nesses momentos, em que tudo parece certo no mundo, em que sentimos que não temos nada para fazer, em que estamos contentes ou relaxados, não estou certo de que há um sinal facial de contentamento. Talvez ocorra um relaxamento dos músculos faciais. É mais provável que o contentamento seja escutado na voz. Explicarei depois como as diferenças entre as emoções agradáveis são sinalizadas mais pela voz que pela face.

O entusiasmo, por outro lado, surge em resposta à novidade ou ao desafio. Para Tomkins, o entusiasmo era a forma mais intensa do interesse, mas o interesse é predominantemente cerebral, um estado de pensamento, e não uma emoção. No entanto, é verdade que assuntos que começam apenas interessantes podem ficar excitantes, especialmente quando acontecem mudanças desafiadoras e rápidas, inesperadas ou originais. Não é fácil especificar um gatilho ou tema universal associado ao entusiasmo. Todos os que pensei — esquiar morro abaixo, estrelas cadentes — são, provavelmente, assustadores para algumas pessoas. Considero, muitas vezes, que há um relacionamento íntimo entre entusiasmo e medo, mesmo se o medo for indireto, que não provoque perigo real. O entusiasmo possui seu próprio sabor, diferente das outras emoções agradáveis. Embora possa ser sentido sozinho, muitas vezes se mistura com outra (ou outras) emoção agradável. Também pode se mesclar em explosões de raiva, como a fúria, ou com medo, no pavor.

O alívio, muitas vezes acompanhado de um suspiro, de uma inspiração e expiração profunda, é a emoção que sentimos quando algo que tinha despertado fortemente nossas emoções se aquieta. Ficamos aliviados ao descobrir que o exame de câncer deu negativo, de achar o filho perdido no shopping center, de saber que passamos em uma prova difícil que pensávamos ter ido mal. O alívio também pode vir depois de experiências positivamente valiosas, como o alívio da tensão sexual e o entusiasmo sentido após o orgasmo, algumas vezes misturado com o alívio a respeito do desempenho sexual. O medo é um precursor frequente do alívio, mas não fixo, pois pode não haver boas resoluções a respeito do que nos amedrontava. Os momentos de angústia podem preceder o alívio quando alguém é capaz de nos tranquilizar ou consolar a respeito de uma perda. Além disso, os momentos de intenso prazer podem preceder o alívio. O alívio é incomum pois não é uma emoção independente. Ao contrário das outras emoções, é precedido de outra emoção.

Outra emoção agradável é o assombro. Sabemos muito pouco a seu respeito, mas uma experiência de assombro intenso, há cerca de quinze anos, me fez pensar nele como uma emoção distintiva. Em cinco minutos de reunião com Richard Schechner, professor de teatro da New York University, descobri diversas coincidências de vida: nós dois tínhamos crescido em Newark, em Nova Jersey. Frequentamos a mesma escola primária, mas nunca nos encontramos, pois Richard estava um ano atrás de mim. Nós dois tínhamos mudado para o mesmo subúrbio e para a mesma rua! Mesmo escrevendo sobre isso, agora, começo a sentir o assombro de então. Depois da morte de minha mãe, meu pai vendeu nossa casa para os pais de Richard, e o quarto de Richard era o que havia sido meu quarto!

As características que definem o assombro são a raridade e o sentimento de dominação por algo incompreensível. Ao contrário da maioria das pessoas que descreveram o assombro, considero importante separá-lo do medo, embora ambos possam se mesclar quando somos ameaçados por algo opressivo e difícil de compreender. É um estado intenso, intrinsecamente agradável. Quase tudo que é incrível, incompreensível e fascinante pode ser fonte de assombro. Não compreendemos o que é ou como pode acontecer, mas não ficamos amedrontados, a menos que represente uma ameaça a nossa segurança e, então, vem o medo. Como Dacher Keltner e Jonathan Haidt afirmaram em uma recente teoria sobre a estupefação (que muitos definem como combinação de assombro e medo): “Objetos que a mente tem dificuldade de apreender”. Pode ser que o assombro fosse comum nos primeiros tempos da História, quando os homens entendiam muito menos a respeito do mundo em que viviam. Praticamente não houve estudos científicos do assombro, principalmente pela dificuldade de conseguir que ele ocorresse em um laboratório, onde pudesse ser cuidadosamente medido.

Darwin escreveu sobre a pele arrepiada que o assombro provoca, e essa é uma das sensações físicas mais fortes associadas a essa emoção. Baseado na experiência, acho que um formigamento sobre os ombros e a parte posterior do pescoço também ocorre na ativação do assombro. Pode haver também uma mudança na respiração (diferente do suspiro de alívio): inspirações e expirações profundas. Na incredulidade, pode ocorrer o ato de balançar a cabeça. Ninguém sabe, por enquanto, se há um sinal distintivo na face, na voz ou no movimento corporal para o assombro.

Admirar pessoas ou considerá-las inspiradoras e carismáticas gera sensações relacionadas ao assombro, mas, outra vez, reafirmo a diferença. A admiração não provoca as mesmas sensações do assombro: o arrepio da pele, as mudanças respiratórias, os suspiros ou o balanço de cabeça. Queremos ir atrás de pessoas inspiradoras, sentimo-nos atraídos por elas, mas, quando sentimos assombro, ficamos parados, não somos impelidos à ação. Pense a res- peito da reação das pessoas no filme “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” ao ver as luzes das espaçonaves.

O êxtase ou glória, o estado de arrebatamento autotranscendente alcançado por meio da meditação, por experiências na natureza, e, ainda por experiência sexual com o ser amado, pode ser considerado outra emoção agradável. Similar ao entusiasmo e ao assombro, o êxtase é uma experiência intensa. Logo, não é algo que se vivencie levemente, em pequenas doses.

Jennifer Capriati, da foto abaixo, acabou de vencer o Torneio de Roland Garros, na França. Ela conquistou algo incrível, desafiador, especialmente porque aconteceu depois de ela ter abandonado o tênis profissional por alguns anos, por problemas pessoais. Qual é a palavra para isso? Poderíamos dizer que ela se sente muito bem, ou satisfeita, ou feliz, mas essas são diversas emoções agradáveis. Ela enfrentou um desafio e o superou com louvor. É muito mais que satisfação, é uma espécie de orgulho. Mas essa palavra também abrange muita coisa. Nessa emoção, a pessoa se empenhou para conquistar algo difícil, e a sensação de ter conseguido isso é muito agradável e singular. As outras pessoas precisam saber de sua conquista, você se regozija. Isabella Poggi, psicóloga italiana, identifica essa emoção, sem nome em inglês, como fiero (orgulho, altivez). A postura de Capriati é, muitas vezes, exibida por atletas que vencem uma competição difícil, embora o esporte não seja o único desafio que desencadeie o fiero. Sinto fiero quando descubro a solução de um problema intelectual difícil. Não há platéia, cuja adulação estou buscando. O fiero requer um desafio difícil e um sentimento favorável da pessoa a respeito de si mesma no momento da conquista. Triunfo não seria a palavra certa para descrever essa emoção, pois implica vencer uma competição, e esse é apenas um dos contextos em que se sente o fiero.

Acredito que essa emoção seja distintiva; não é como os prazeres sensoriais, nem alívio, nem diversão. O entusiasmo pode anteceder o fiero, quando começamos a enfrentar um desafio, mas também não é a mesma coisa. É sua própria emoção. Enquanto a soberba é tradicionalmente listada como o primeiro dos sete pecados capitais, o desejo de viver o fiero foi essencial ao longo da evolução, pois motivou grandes iniciativas e conquistas.

Como você se sente quando escuta que seu filho/a foi aceito pela melhor faculdade, atuou esplendidamente em um recital, ganhou um prêmio no grupo de escoteiros ou conquistou algo importante? Podemos dizer orgulho, mas isso não especifica o padrão de sensações físicas que ocorrem nessas situações. Em iídiche, contudo, há uma palavra específica para essa experiência: naches. O escritor Leo Rosten define naches como “o arrebatamento de prazer mais orgulho que somente um filho pode dar a seus pais: ‘Eu tenho esse naches‘”. Uma palavra semelhante, em iídiche, é kvell, também definida por Rosten: “Mostrar-se radiante, com imenso orgulho e prazer, em geral a respeito da conquista de um filho ou neto; ficar tão orgulhosamente feliz que os botões podem rebentar””. Naches é a emoção, kvell é sua expressão.

Para minha filha, os filhos podem sentir naches das conquistas de seus pais. O insight dele me deu naches, e eu estou agora em kvell. Naches assegura o investimento parental no crescimento e nas conquistas dos filhos. Infelizmente, alguns pais não sentem naches quando seus filhos os superam. Freqüentemente, esses pais invejosos competem com os filhos, o que pode ser muito destrutivo tanto para os pais como para os filhos. Vi esse tipo de competição mais de uma vez, entre um orientador e estudantes no mundo acadêmico. “Por que eles a convidaram para a conferência? Eu sou o especialista; ela era minha aluna.” Um professor, como um pai, deve sentir naches se o aluno sentir fiero e se motivar para feitos maiores, esperando que seu mentor chegue a kvell. Esses exemplos suscitam a interessante possibilidade de que existem emoções agradáveis que algumas pessoas nunca experimentam. Certamente isso seria assim com obstáculos físicos a um ou outro dos prazeres sensoriais, mas talvez existam obstáculos psicológicos bloqueando a capacidade de viver algumas das emoções agradáveis.

O antropólogo Jonathan Haidt sugeriu que a elevação seja outra emoção agradável. Ele a descreve como “uma sensação cálida, edificante, que as pessoas têm ao ver atos inesperados de bondade, gentileza e compaixão”. Sentir-se elevado é algo que nos motiva a ser pessoas melhores, ao envolvimento com gestos altruístas. Não tenho dúvida de que aquilo que Haidt identificou e nomeou existe, mas não tenho certeza de que satisfaz os critérios para se esta- belecer como emoção. Nem tudo que vivenciamos são emoções. Também temos pensamentos, atitudes e valores, por exemplo.

Richard e Bernice Lazarus descrevem a gratidão como “o apreço por uma doação altruísta que proporciona benefício”. Para eles, quando uma pessoa é atenciosa conosco e é altruísta, ou seja, não quer apenas se beneficiar, tendemos a sentir gratidão. No entanto, podemos nos constranger por sermos caracterizados pela atenção, ficar ressentidos, nos sentir em dívida ou até nos zangar, se acharmos que a pessoa tão atenciosa conosco fez isso pois considerou que estávamos muito necessitados.

De fato, a gratidão é uma emoção complicada, pois é difícil saber quando surgirá. Suponho que haja diferenças culturais importantes nas situações sociais em que a gratidão é vivenciada (a questão de quando dar gorjeta, por exemplo, apresenta diferentes respostas nos Estados Unidos e no Japão). Nos Estados Unidos, se as pessoas estão apenas fazendo seu trabalho, muitas vezes dizem que não esperam agradecimento; se uma enfermeira estiver sendo ape- nas uma enfermeira enquanto cuida de um paciente muito doente, pode dizer que não espera — nem precisa — de gratidão. Minha experiência, contudo, foi oposta; freqüentemente, a expressão de gratidão é apreciada nessas situações.

Duvido que haja um sinal universal de gratidão. O único de que me lembro é uma ligeira inclinação da cabeça, que pode sinalizar muitas outras coisas, como concordância. Também duvido que exista um padrão fisiológico de sensações que caracterizam a gratidão. Sem dúvida, ela existe, devemos apenas questionar se a colocamos no mesmo cesto da diversão, do alívio, dos prazeres sensoriais etc.

A sensação que vivenciamos ao saber que nosso pior inimigo sofreu algo também pode ser agradável, um tipo diferente de satisfação em relação às consideradas até aqui. Em alemão, denomina-se Schadenfreude. Ao contrário das outras emoções agradáveis, a Schadenfreude é desaprovada por algumas sociedades ocidentais (não tenho conhecimento da atitude de sociedades orientais a esse respeito). Supostamente, não devemos nos exultar sobre nossos sucessos, nem saborear as desventuras de nossos rivais. Devemos considerar a exultação uma emoção agradável distintiva? Provavelmente não; ela é muito como o fiero, exibido na frente dos outros.

Há realmente dezesseis emoções agradáveis? Os cinco prazeres sensoriais, a diversão, o contentamento, o entusiasmo, o alívio, o assombro, o êxtase, o fiero, o naches, a elevação, a gratidão e a Schadenfreude são, realmente, emoções distintas? Somente a pesquisa de suas ocorrências, sinais e o que ocorre internamente podem responder a essas perguntas. Por ora, acredito que devemos investigar cada uma delas. Alguns podem sustentar que, se não temos a palavra para uma emoção, ela não se qualifica. Certamente, não devíamos ser tacanhos ao insistir que deve ser uma palavra em inglês. Não é fundamental que haja uma palavra, em qualquer língua — mas espero que as emoções tenham sido nomeadas. As palavras não são emoções; são representações. Precisamos tomar cuidado para que nossas palavras não nos desencaminhem do verdadeiro significado das emoções. Às vezes, a maneira como usamos as palavras pode confundir. Empreguei diversão para a emoção agradável que sentimos em resposta a algo divertido, geralmente uma piada, mas também a outros assuntos que podem ser cômicos. Nesse momento, contudo, considere as emoções que sentimos em um parque de diversões. Em geral, não existem muitas piadas, embora, em alguns casos, nos divertimos com comediantes que atuam ali. Salões de espelhos e montanhas russas podem gerar maior excita- ção, medo e alívio que diversão. Também podemos sentir algum fiero, depois de enfrentarmos experiências desafiadoras. Se derrubarmos muitas garrafas ou pontuarmos bem barraca de tiro ao alvo, o fiero também pode ocorrer. Se nossos filhos ganharem nessas brincadeiras, sentiremos naches. Além disso, pode haver prazeres sensoriais nas experiências oferecidas. Combina melhor com as minhas palavras invocar um parque de diversões.

Essas emoções agradáveis estimulam nossas vidas; motivam-nos a fazer coisas que, em geral, são boas para nós. Estimulam nosso envolvimento na atividade necessária para que nossa espécie sobreviva: relações sexuais e apoio ao crescimento dos filhos. Isso difere totalmente do hedonismo, pois os atos altruístas podem ser fontes aprendidas de fiero, entusiasmo, diversão, prazeres sensoriais: quase todas as emoções agradáveis. A busca da satisfação não precisa ser solitária ou egoísta. De fato, acredito exatamente no contrário: sem amizade, sem realizações, sem o contato que gera prazer sensorial, a vida seria muito árida.

Assim como Tomkins, acredito que a busca da satisfação é uma motivação primária em nossas vidas. No entanto, quais emoções agradáveis devemos buscar? Todos podem vivenciar essas emoções, a menos que sejamos sensorialmente destituídos, mas temos inclinações, e, às vezes, desejamos algumas mais que outras. As pessoas organizam suas vidas para maximizar as experiências de algumas dessas satisfações. Sou uma pessoa que concentra esforços. Dessa maneira, posso sentir o fiero, o naches e alguns prazeres sensoriais. Quando jovem, enfocava mais o entusiasmo que o naches (pois ainda não tinha filhos). Suponho que, ao longo da vida, mudamos nosso foco diversas vezes, mas isso também ainda não foi estudado.

A busca do contentamento sempre foi inexpressiva para mim, mas tenho amigos que a têm como um objetivo importante, procurando momentos de calma e tranqüilidade. Outras pessoas que conheço buscam situações ameaçadoras e ampliam o temor, para vivenciar entusiasmo, fiero e alívio. Além disso, há pessoas para quem a diversão, para si e para os outros, é o ponto central de suas personalidades. A pessoa altruísta, que muitas vezes decide trabalhar em organizações como Habitaifor Humanity ou Peace Corps, pode estar procurando elevação, gratidão, e talvez fiero.

Volte ao começo do capítulo e observe a foto do reencontro da família Stirm. Tentemos identificar que emoções agradáveis a filha sentia ao correr com os braços estendidos para abraçar seu pai. Há entusiasmo e a expectativa dos prazeres sensoriais que ela sentirá ao abraçá-lo, sentindo novamente o tato e cheiro familiar dele. Provavelmente, ela sentiu alívio alguns momentos antes, quando viu que o pai realmente tinha voltado sem ferimentos de guerra. Também pode ter havido um momento de assombro na incompreensão de seu regresso após cinco anos, um longo período de tempo da vida dessa jovem.

O reencontro com alguém a quem você é muito ligado pode ser um tema universal de emoções agradáveis. Na Nova Guiné, verifiquei que os reencontros com vizinhos de aldeias amistosas eram a melhor situação para filmar a satisfação espontânea. Sentaria à beira do caminho, quase escondido nos pequenos arbustos, com minha câmera pronta para rodar, esperando o encontro dos amigos. Os reencontros fortalecem os vínculos entre as pessoas. A ausência pode, de fato, deixar o coração mais afetuoso. É agradável rever pessoas com as quais você se preocupa.

As relações sexuais são outro tema universal que envolve muitas emoções agradáveis. Evidentemente, diversos prazeres sensoriais ocorrem, além da excitação inicial e o alívio depois do clímax. A luxúria e o desejo sexual são carregados de expectativa erótica, expectativa de alguns prazeres sensoriais e na perspectiva do que é desejado.

O nascimento de um filho foi mais mencionado do que imaginava pelos alunos da faculdade, tanto homens quanto mulheres, a quem pedi, em um estudo inédito, para descrever o evento mais feliz que eles podiam imaginar. O entusiasmo, o assombro, o alívio, o fiero e talvez a gratidão estão provavelmente entre as emoções agradáveis mais relevantes.

Estar na presença de um ser amado é outro tema universal. Tanto o amor parental como o romântico envolvem compromissos de longo prazo, ligações intensas com alguém específico. Nenhum deles é, em si, uma emoção. As emoções podem ser muito breves, mas o amor perdura. No entanto, embora o amor romântico possa durar a vida toda, muitas vezes isso não acontece.

Geralmente, o amor parental é um compromisso eterno (embora haja exceções, em que os pais renegam seus filhos). Há outro significado de amor, relacionado a um surto momentâneo e breve de prazer extremo e envolvimento com o ser amado. Isso é o que descrevi como êxtase ou glória, e pode ser considerado uma emoção.

Nos relacionamentos familiares amorosos, sentimos muitas vezes diversas emoções agradáveis, mas não sem sentirmos, outras vezes, emoções desagradáveis. Podemos ficar zangados, desgostosos ou decepcionados com os entes queridos, e sentimos desespero e angústia em caso de morte ou doença grave. Embora se preocupem mais quando os filhos são pequenos, acredito que os pais nunca deixam de se preocupar com a segurança e bem-estar deles. O contato com a criança, real, ou imaginado, pode gerar diversas emoções agradáveis: prazeres sensoriais, naches, momentos de contentamento ou entusiasmo, alívio quando ela escapa do perigo e, sem dúvida, diversão.

No amor romântico, a pessoa também pode sentir todas as emoções desagradáveis, mas, esperançosamente, não com tanta freqüência como as agradáveis. A aversão e o desprezo são raros e, quando ocorrem, é sinal de que o relacionamento enfrenta problemas. Os relacionamentos românticos diferem em termos de quais emoções agradáveis ocorrem com mais freqüência. Alguns casais perseguem o fiero conjuntamente, trabalhando juntos ou encon-trando satisfação na conquista de cada um. Outros podem enfocar mais o entusiasmo ou o contentamento, para dar apenas alguns exemplos.

Embora acredite que os temas mencionados sejam universais, eles são elaborados por nossas experiências. Inúmeras outras variações desses temas são aprendidas e tornam-se fontes de emoções diferentes de satisfação.

Há estados de ânimo relacionados a algumas emoções agradáveis, especificamente entusiasmo, contentamento e diversão. Essas sensações podem ser estendidas por longos períodos, horas, em um estado em que a pessoa sente facilmente as emoções referentes ao estado de ânimo.

No começo do capítulo, afirmei que a palavra felicidade não especifica o tipo de felicidade que está acontecendo. Uma ambigüidade adicional é que a felicidade pode se referir a uma questão completamente diferente, ou seja, o bem-estar subjetivo. O psicólogo Ed Diener, líder no estudo do bem-estar subjetivo, define-o como as avaliações das pessoas a respeito de suas vidas. Foi medido primeiramente por respostas a perguntas como: “Na maioria dos casos, minha vida está próxima do meu ideal” ou “Até aqui, consegui as coisas importantes que quis”. Diversos fatores diferentes parecem integrar o bem-estar: realizações específicas, como no trabalho, e frequência de emoções agradáveis, em comparação a emoções desagradáveis.

O bem-estar subjetivo foi muito estudado em todo o mundo. Oferecer mais que uma amostra dos resultados nos levaria muito longe de nosso objetivo, mas um resultado universal é a associação positiva com a renda, associada ao poder de compra. Uma diferença cultural é que o amor próprio está mais relacionado ao bem-estar subjetivo nas culturas ocidentais que nas orientais. O relacionamento íntimo também está associado ao bem-estar na maioria das culturas.

Há também um conjunto de traços de personalidade relacionados às emoções agradáveis. As pessoas cujas pontuações nos testes de personalidade são altas em extroversão e estabilidade emocional relatam maior felicidade”. A pesquisa de como os traços de personalidade conduzem à felicidade não considerou os diferentes tipos de satisfação relatados, mas sugeriu como a extroversão pode predispor a ser mais feliz. Os extrovertidos podem ser menos sensíveis à rejeição ou ao castigo, ou podem tender a fazer comparações favoráveis entre eles e os outros. Além disso, talvez se encaixem na cultura norte-americana melhor que os introvertidos.

As pessoas também diferem em seus níveis usuais de otimismo e animação, e isso parece ser uma característica duradoura em vez de uma reação a uma situação ou evento específico. Christopher Peterson, especialista nesse campo, sugere o otimismo como uma atitude acerca da probabilidade de vivenciar emoções agradáveis. Embora nem todas as pessoas sejam muito otimistas, essa visão de mundo é boa. Ela está em pessoas que possuem mais satisfações em suas vidas, maior perseverança e conquistas. Curiosamente, diversos estudos sugerem que as pessoas otimistas gozam melhor saúde e, realmente, vivem mais. Para Peterson, o otimismo a respeito da vida “pode ser uma tendência biológica, preenchida pela cultura com um conteúdo socialmente aceitável, levando a resultados desejáveis pois produz um estado geral de vigor e resiliência”. Peterson também afirma: “Qual é a emoção do otimismo? Felicidade, alegria, hipomania (um distúrbio mental, em que há estados de espírito muito elevados) ou, simplesmente, contentamento?”.

Nos capítulos anteriores, descrevi como a abundância de emoções perturbadoras — medo, raiva e tristeza foram as mais fáceis de exemplificar — podia significar distúrbio emocional. A ausência total de emoções agradáveis — incapacidade de sentir fiero, naches, prazeres sensoriais etc. — é um transtorno psiquiátrico classificado como anhedonia. O entusiasmo excessivo, persistente, misturado algumas vezes com glória e fiero fazem parte do distúrbio emocional da mania.

Identificando a satisfação nos outros

Fica evidente, a partir dessa breve passagem, deste breve capítulo, que o sorriso é o sinal facial das emoções agradáveis. A diversão, o fiero, o naches, o contentamento, o entusiasmo, os prazeres sensoriais, alívio, o assombro, a Schadenfreude, o êxtase e, talvez, a elevação e a gratidão, envolvem o sorriso. Esses sorrisos podem diferir em intensidades, rapidez e duração.

Em todas essas emoções agradáveis existe a expressão sorridente. Como saber, então, o que a outra pessoa está sentindo? Um trabalho recente, mencionado no Capítulo 4, respaldou o palpite de que é a voz, e não a face, que fornece os sinais que diferenciam as emoções agradáveis. Sophie Scott e Andrew Calder, psicólogos ingleses, identificaram diferentes sinais vocais de contentamento, alívio, prazer sensorial tátil e fiero. Eles comprovaram que essas emoções são sinalizadas pela voz, propondo cada som e constatando que as pessoas que escutavam não tinham dificuldade de identificar uma emoção. Scott e Calder ainda não descreveram precisamente o que está no tom da voz para sinalizar cada uma das emoções agradáveis. Suponho que eles também encontrarão sinais vocais de muitas outras emoções.

Os sorrisos podem ser enganosos, não só por fazerem parte de cada uma das emoções agradáveis, como também por serem exibidos quando as pessoas não sentem nenhum tipo de satisfação. Por exemplo: a polidez. Uma diferença separa os sorrisos satisfeitos dos de não satisfação. E uma diferença sutil, e nossa pesquisa com o psicólogo Mark Frank sugere que a maioria das pessoas não a percebe. Se você não souber o que procurar, você pode ficar desorientado ou confuso, ou chegar à conclusão que os sorrisos não são confiáveis. Isso não é verdade. Os sorrisos, de modo inequívoco, mesmo que sutilmente, dizem se nascem ou não da satisfação.

Mais de cem anos atrás, Duchenne de Boulogne, neurologista francês, descobriu como o verdadeiro sorriso de satisfação difere de todos os outros sorrisos. Ele estudou como cada músculo facial muda a aparência das pessoas estimulando eletricamente diferentes partes da face e fotografando as contrações resultantes. (Ele realizou uma experiência com um homem que não sentia dor na face e, dessa maneira, não se incomodou com o procedimento.) No momento em que Duchenne observou a foto risonha produzida pela ativação do músculo zigomático maior — músculo que sai das maçãs do rosto (osso malar) e desce até uma aresta, no canto da boca, puxando os cantos da boca para cima, em um ângulo, num sorriso —, ele percebeu que o homem realmente não parecia feliz. Como bom experimentalista, Duchenne contou uma piada ao homem e registrou sua reação. A comparação revelou que, na satisfação verdadeira, em resposta a uma piada, o homem não apenas sorriu, mas ativou o músculo que circunda os olhos. Compare a foto em que ele tem eletrodos na face (à esquerda) com a sem eletrodos, em que ele sorri naturalmente (à direita).  

Duchenne escreveu, em 1862: “A emoção da franca alegria está expressa na face pela contração combinada dos músculos zigomático maior e orbicularis oculi. O primeiro obedece à vontade, mas o segundo só é ativado pelas doces emoções da alma; a alegria falsa, o riso enganoso, não podem provocar a contração desse segundo músculo. O músculo ao redor dos olhos não obedece à vontade; ele só é ativado por um sentimento verdadeiro, por uma emo- ção agradável. Sua inércia, no sorriso, desmascara um falso amigo”.

Nossa pesquisa confirmou a asserção de Duchenne de que ninguém pode contrair voluntariamente o músculo orbicularis oculi (ele “não obedece à vontade”), embora apenas parte dele seja difícil de contrair voluntariamente. Há duas partes desse músculo — uma interna, que retesa as pálpebras e a pele diretamente abaixo dela, e uma externa, que percorre toda a cavidade ocular — abaixando as sobrancelhas e a pele abaixo delas, empurrando para cima a pele de baixo do olho e erguendo as bochechas. Duchenne estava correto a respeito da parte externa do músculo; pouquíssimas pessoas podem contraí-la voluntariamente (cerca de 10% das pessoas que estudamos).

Todos podem ativar a parte interna, que retesa as pálpebras. Portanto, sua ausência não “desmascara um falso amigo”. Os atores que aparentam sentir satisfação de modo convincente pertencem ao pequeno grupo de pessoas que contraem voluntariamente a parte externa desse músculo, ou, provavelmente, estão resgatando uma memória que gera a emoção e, em seguida, produz a expressão verdadeira.

Embora Charles Darwin citasse Duchenne e usasse algumas de suas fotografias para ilustrar a diferença entre sorrisos, os cientistas que estudaram expressões faciais nos cem anos seguintes ignoraram a descoberta de Duchenne. Eu e meus colegas reincorporamos as descobertas de Duchenne há vinte anos”, e, desde então, destacamos sua importância. Por exemplo, se um recém-nascido de dez meses for abordado por um estranho, seu sorriso não envolverá o músculo ao redor do olho; porém, esse músculo se manifesta no sorriso da mãe, quando ela se aproxima da criança.

Quando casais felizes se encontram no fim do dia, o sorriso deles envolve o músculo ao redor dos olhos, mas está ausente no caso de casais infelizes. As pessoas que discutem a morte recente de um cônjuge e conseguem exibir sorrisos que envolvem o músculo ao redor dos olhos apresentam um luto reduzido dois anos depois. (Não que elas estejam se deleitando com a morte do cônjuge, mas são capazes de recordar experiências agradáveis e, por um instante, vivenciar novamente a satisfação.) As mulheres que exibem sorrisos envolvendo o músculo ao redor dos olhos em suas fotografias do álbum da faculdade apresentaram menos aflição depois de trinta anos e maior bem-estar emocional e físico. Em geral, as pessoas que exibem frequentemente sorrisos envolvendo o músculo ao redor dos olhos apresentam a sensação de maior felicidade, têm pressão arterial menor e seus cônjuges e amigos as consideram felizes. Além disso, em nossa pesquisa, verificamos que o sorriso tanto com o músculo dos olhos como com a boca ativou áreas cerebrais (têmpora esquerda e regiões anteriores) encontradas na satisfação espontânea, mas o sorriso apenas com a boca não fez isso.

Em a homenagem a Duchenne, sugeri denominar sorriso de Duchenne o verdadeiro sorriso de satisfação, que envolve a parte externa do músculo que circunda os olhos.

À primeira vista, pode parecer que a única diferença entre essas fotos é que os olhos estão mais apertados na foto B, mas, se você comparar com cuidado as duas fotos, perceberá muitas diferenças. Na foto B, que expõe a satisfação real, as bochechas estão mais altas, o contorno delas mudou e as sobrancelhas abaixaram um pouco. Tudo isso se deve à ação da parte externa do músculo ao redor dos olhos.

Quando o sorriso é largo, há apenas um indício que diferencia satisfação e não satisfação. Um sorriso largo, como vemos na foto C, empurra para cima as bochechas, junta a pele sob os olhos, estreita a abertura dos olhos e até produz pés de galinha, tudo sem envolver músculo ao redor dos olhos.

Em comparação, a foto D mostra que as sobrancelhas e a dobra da cobertura dos olhos (a pele entre as pálpebras e as sobrancelhas) foram abaixadas pelo músculo ao redor do olho. A foto D é um largo sorriso de satisfação, enquanto a C não é.

A foto C, casualmente, é composta, obtida pela colagem de D, a partir das pálpebras inferiores para baixo, na foto neutra E. A foto F, abaixo, também é composta: a boca sorridente da foto D foi colada na foto E. Os seres humanos não são capazes de produzir a expressão da foto F. Você deve estranhá-la, e o motivo disso é que o sorriso largo produz todas as mudanças nas bochechas e nos olhos que você observa na foto D. Fiz essa composição para sublinhar que sorrisos muito largos mudam não apenas a boca, mas também as bochechas e a aparência da pele abaixo dos olhos.

Há diversos sorrisos de não satisfação diferentes. Alguns, como o sorriso polido, envolvem apenas a boca sorridente. Isso também ocorre nos sorrisos usados para indicar que o ouvinte concorda ou compreende o que o interlocutor está dizendo durante uma conversa. Alguns sorrisos de não satisfação requerem outras ações faciais além da boca sorridente.

Sorriso Hesitante

Esse homem de Nova Guiné era um ancião respeitado na aldeia. Seu sorriso hesitante ou cauto sinaliza que ele quer dizer que não há nada de mal, mas que ainda não tem certeza do que vai acontecer a seguir. Eu era uma pessoa muito imprevisível para os moradores dessa aldeia. Fazia coisas incríveis, estranhas: acender um fósforo, ligar uma lanterna, fazer música sair de uma caixa. Ele foi atraído por mim com espanto, entusiasmo e diversão, e encarou essas maravilhas, mas não sabia quando eu podia surpreendê-lo ou atemorizá-lo. A boca sorridente separada e os braços cruzados ajudam a transmitir a hesitação.

Foram lançadas farpas durante o dia todo. O presidente Ronald Reagan finalmente terminou seu discurso para a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (National Association for the Advancement of Colored PeopleNAACP), mas, em sua introdução, a presidente Margaret Bush Wilson provocou Reagan diversas vezes, lembrando a ausência dele na convenção da associação durante a campanha presidencial. Ela também fez os delegados aplaudirem-na ao emitir esse repúdio: “A NAACP não apoia necessariamente os pontos de vista prestes a ser expressos”. Depois do discurso, Reagan abraçou Wilson, uma perfeita ocasião para o que pode ser denominado um sorriso infeliz ou do tipo “aceitar algo desagradável com bom humor”. Esse sorriso reconhece as emoções desagradáveis, revela que você tem espírito esportivo, que é capaz de aceitar críticas e, ainda, sorrir. Não é uma tentativa de ocultar a emoção, mas um comentário visível de indisposição. Significa que a pessoa que o revela, ao menos na hora, não vai protestar a respeito dessa indisposição.

Sorriso do tipo “aceitar algo desagradável com bom humor”

Observe que, além de sorrir largamente, o ex-presidente Reagan tem os lábios apertados. A partir do enrugamento no queixo, também podemos dizer que ele empurrou o lábio inferior para cima. Com base na fotografia, não podemos afirmar a atuação do músculo que circunda os olhos. Reagan pode ter gostado da situação desagradável. Em geral, os sorrisos infelizes ocorrem quando não há satisfação real, mas uma possibilidade, como o caso.

Controlando a Emoção com um sorriso

Após renunciar, o ex-presidente Richard Nixon mostrou essa expressão momentos antes de deixar a Casa Branca, em uma despedida chorosa para aqueles que tinham servido sua presidência. Ninguém questionaria a infelicidade de Nixon naquele momento, mas o traço de um sorriso revela que ele não está abatido, que controlará o pesar e provável desespero. A boca está um pouco curvada para baixo, sinal de tristeza, uma expressão que seria mais intensa se ele não estivesse tentando sorrir. Não há brilho em seu olhar, um sinal muitas vezes visto nos sorrisos de satisfação, produzido pelas ações do músculo orbicularis oculi. Os lábios estão ligeiramente apertados, como se ele tentasse controlar suas emoções.
Nesse momento, passaremos para imagens finais, expondo a mistura de satisfação com outras emoções.
As fotos enfileiradas exibem sorrisos misturados. A combinação de sobrancelha baixa e sorriso da foto G é rara. Não é um sorriso raivoso, pois a boca não está estreita nem estendida, e a pálpebra superior não foi erguida. Não há certeza do que a expressão pode sinalizar, pois não a vi em nenhuma de minhas pesquisas. A foto H é mais fácil, pois revela aversão claramente, devido ao erguimento do lábio superior. O sorriso adiciona hesitação à expressão, mas não é o caso de uma pessoa que realmente gosta de sua aversão. Na foto I, há uma mistura de satisfação e desprezo, formando uma expressão presunçosa. Vimos essa imagem antes, no capítulo dedicado à aversão e desprezo.

Utilizando as informações das expressões

Nos capítulos anteriores, discuti como utilizar as informações sobre as expressões faciais em diversos relacionamentos. Não quero fazer isso aqui, pois é raro perceber que alguém que vive uma experiência agradável possa criar um problema. Frequentemente, não importa se a pessoa exibe um sorriso de Duchenne, satisfação real, um sorriso polido ou falso. Se seu chefe contar uma piada sem graça, você vai rir. Com certeza, ele não examinará sua expressão cuidadosamente para certificar-se de que você realmente gostou da piada. O que importa é que tentou transparecer apreço. No entanto, às vezes, quando você realmente se importa com a apreciação alheia, o lugar que deve ser observado é a dobra da cobertura do olho, diretamente abaixo das sobrancelhas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *