Os inimigos próximos – Jack Kornfield

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Uma das questões mais importantes que encontramos na prática espiritual é como conciliar serviço e ação responsável com uma vida meditativa que promove o não apego, o soltar, e mostre a vacuidade de todas as coisas condicionadas. Os valores que nos levam a dedicação, serviço e cuidado do outro diferem dos valores que nos conduzem a uma jornada de liberação e despertar?
Para considerar estas questões, devemos aprender a distinguir entre as qualidades do coração desperto – amor, compaixão, alegria e equanimidade, e aquilo que poderia ser chamado seus “inimigos próximos”. Os inimigos próximos podem se parecer com estas qualidades e podem até serem confundidos por elas, mas eles não são fundamentalmente iguais. Os inimigos próximos mostram como a espiritualidade pode ser mal compreendida ou usada erradamente para nos separar da vida.

Amor versus Apego

O inimigo próximo do amor é o apego. O apego se disfarça como amor. Ele diz, “Eu amarei esta pessoa porque preciso dela”. Ou “Eu lhe amarei se você me amar de volta. Eu lhe amarei, mas só se você for do jeito que quero”. Isto absolutamente não é amor – é apego – e apego é rígido, é muito diferente de amor. Quando há apego, existe fixação e medo. Amor concede, honra e aprecia; apego controla, exige, obriga e deseja possuir. O apego é condicional, oferece amor apenas a certas pessoas em certas maneiras; exclui. O amor, no sentido de metta, usado pelo Buddha, é um sentimento de cuidado e conectividade, não-discriminativo e universal. Nós podemos até amar aqueles que não aprovamos ou gostamos. Podemos não tolerar seu comportamento, mas cultivamos o perdão. Amor é uma poderosa força que transforma qualquer situação. Não é uma aquiescência passiva. Como o Buddha disse, “O ódio nunca cessará pelo ódio. O ódio só cessará pelo amor.” O amor abraça todos os seres sem exceção, descarta a má vontade.

Compaixão versus Piedade e Desespero

O inimigo próximo da compaixão é a piedade. Em vez do sentimento de abertura da compaixão, a piedade diz, “Oh, pobre pessoa. Eu me entristeço por pessoas como aquela.” A piedade as vê como diferentes de nós mesmos. Ela estabelece uma separação entre nós mesmos e os outros, um senso de distância e afastamento dos sofrimentos dos outros que ratifica e gratifica o self. Compaixão, por outro lado, reconhece o sofrimento do outro como um reflexo de nossa própria dor: “Eu compreendo isto; eu sofro da mesma forma.” É empático, uma conexão mútua com a dor e tristeza da vida. Compaixão é compartilhar sofrimento.
Outro inimigo da compaixão é o desespero, desesperança. Compaixão não significa nos submergirmos no sofrimento de outros ao ponto da angústia. Compaixão é a terna prontidão do coração para responder à própria dor ou a dor do outro sem desespero, ressentimento ou aversão. É o desejo de dissipar o sofrimento. Compaixão abraça aqueles que experienciam sofrimento, e elimina a crueldade da mente.

Alegria versus Comparação e Inveja

A terceira qualidade, alegria solidária, é a habilidade de sentir alegria com a felicidade do outro. O inimigo é a comparação e inveja. A inveja compara nossa alegria com a do outro. Nos separa e acredita que aquela alegria é limitada. Se outros a têm, não será suficiente para nós. A verdadeira alegria compartilhada é a alegria de ser, é a celebração com o coração aberto, de nossa vida com a do outro. Alegria compartilhada se delicia com o sucesso e felicidade de todos. Deseja que a felicidade deles e a nossa possa aumentar.

Equanimidade versus Indiferença

O inimigo próximo da equanimidade é a indiferença ou crueldade. Podemos parecer serenos ao dizer, “Não estou apegado. Não importa o que acontece, porque é tudo transitório.” Sentimos um certo alívio porque nos retiramos da experiência e da energia de vida. Mas a indiferença está baseada no medo. A verdadeira equanimidade não é uma retirada; é um engajamento equilibrado com todos os aspectos da vida. É a abertura ao todo da vida com serenidade e tranquilidade da mente, aceitando a natureza maravilhosa e aterrorizante de todas as coisas. A equanimidade abraça o amado e o não amado, o agradável e o não agradável, o prazer e dor. Elimina o apego e aversão.

Embora tudo seja transitório e semelhante a um sonho, com equanimidade nós honramos a realidade da forma. Como o mestre Zen Dogen diz, “Flores caem com nosso apego, e ervas daninha florescem com nossa aversão.” Compreendendo que tudo mudará e que o mundo dos fenômenos condicionados é insubstancial, com equanimidade somos capazes de ficarmos totalmente presentes e em harmonia com ele.

Sabedoria e Engajamento

No caminho óctuplo, o Buddha fala sobre motivação correta, que envolve o mundo em três caminhos. Primeiro nós cultivamos uma mente livre de desejos não saudáveis, desenvolvendo um senso de contentamento interior. Segundo, nos livramos da má vontade e ressentimento, cultivando pensamentos de compaixão e amabilidade. Terceiro, desenvolvemos uma mente que está livre da crueldade ao nutrir as forças da bondade e amor dentro de nós. Com a intenção correta podemos envolver toda a vida e as diferentes situações que nos defrontamos como degraus para o despertar.

Apego, piedade, comparação e indiferença são formas de desengajamento, de nos separarmos da vida por medo. A verdadeira espiritualidade não é eliminar ou escapar da vida. Ela permite que ingressemos no mundo com uma profunda visão que não é autocentrada ou dualista, que vê a interconectividade de toda vida. É a descoberta de que a liberdade repousa bem no meio de nossos corpos e mentes.
Anos atrás na Índia eu perguntei a uma professora de meditação chamada Vimala Thaker sobre a questão da meditação e trabalho no mundo. Vimala tinha trabalhado com os seguidores de Gandhi por muitos anos em projetos rurais de desenvolvimento e redistribuição de terras quando, como resultado de seus estudos com Krishnamurti, começou a ensinar meditação e dedicou muitos anos a isto. Então mais tarde ela retornou ao trabalho inicial e a ajudar as pessoas com fome, os sem-teto, ensinando meditação menos do que antes. Eu lhe perguntei por que ela decidiu voltar ao trabalho que tinha feito anos antes. Ela respondeu, “Senhor, sou uma amante da vida, e como amante da vida não posso descartar qualquer atividade da vida. Se existem pessoas que estão famintas por comida, minha resposta é ajudar a alimentá-los. Se existem pessoas que estão famintas pela verdade, minha resposta é ajuda-los a descobri-la. Não faço distinção.”

Os sufis tem um provérbio simples que expressa claramente este paradoxo: “ Louve Allah e amarre seu camelo no poste.” Louve, mas também se certifique de fazer aquilo que seja necessário no mundo. Medite, mas manifeste sua compreensão desta experiência espiritual. Equilibre sua realização da vacuidade com um senso de compaixão e cuidado para guiar sua vida impecavelmente.

Ver a vacuidade significa ver que toda a vida é como uma bolha, um jogo de luz e sombra, um sonho. Significa compreender que este minúsculo planeta está suspenso na imensidão do espaço entre bilhões de estrelas e galáxias – que toda a história da humanidade é um segundo comparado aos bilhões de anos da história da terra, que tudo acabará em breve, que ninguém está realmente indo a lugar algum. Este contexto nos ajuda a nos soltarmos em meio à aparente seriedade de nossos problemas, a entrar na vida com um senso de leveza e conforto.
Cuidado e compaixão significa perceber como preciosa é a vida, apesar de ser efêmera e transitória, e como cada uma de nossas ações e palavras afetam todos os seres ao nosso redor da forma mais profunda. Não existe nada sem consequências neste universo, e precisamos respeitar este fato pessoalmente e agir responsavelmente em acordo com ele.

Como podemos colocar vacuidade e cuidado juntos? Poderia ser usado um argumento muito convincente de simplesmente nos dedicarmos à meditação. O mundo necessita de mais remédios e energia e prédios e alimentos? Realmente não. Existem milhares de depósitos de cereais enquanto em outros lugares pessoas morrem de fome. Há milhões de pessoas enfermas com doenças para quais temos remédios para curar. Há bastante recursos para todos nós. Existe fome e pobreza e doença por causa da ignorância, preconceito e medo, porque acumulamos coisas e criamos guerra imaginando fronteiras geográficas e agindo como se um grupo de pessoas fosse verdadeiramente diferente de nós. O que o mundo precisa não é mais petróleo ou alimento, mas amor e generosidade, menos ganância e mais bondade e compreensão. A coisa mais fundamental que podemos fazer para ajudar este mundo de guerra e sofrimento é nos livrarmos do medo e das visões divididas em nossas mentes, e então ajudar os outros a fazer o mesmo. Assim, a prática espiritual não é um privilégio; é uma necessidade, uma responsabilidade básica.

Mas há um argumento igualmente convincente para se dedicar totalmente ao serviço no mundo. Só precisaria mencionar os horrores de Darfur (genocídio de Darfur, oeste do Sudão), a violência atual no Oriente Médio, a devastação no Haiti – situações nas quais a enormidade do sofrimento é quase além da compreensão. Somente na Índia três milhões de pessoas vivem em tal pobreza que o trabalho de um dia paga apenas uma refeição. Certa vez encontrei um homem em Calcutá que tinha sessenta e quatro anos e para viver trabalhava puxando a carroça típica do lugar (jinrikisha, riquixá). Ele fazia isso há quarenta anos e tinha dez pessoas que dependiam dele. Um ano antes ele tinha ficado doente por dez dias. Em uma semana o dinheiro acabou e eles não tinham nada para comer. Como podemos deixar isso acontecer? Inúmeras crianças morrem de fome a cada minuto enquanto são gastos vinte e cinco milhões de dólares por minuto em armas. Devemos reagir. Não podemos virar as costas ou desviar o olhar.

Temos dilemas dolorosos a encarar. Onde deveríamos colocar nossa energia? O que deveríamos fazer primeiro? Deveríamos meditar? Nenhuma quantidade de serviço será bastante se não mudarmos a consciência do mundo. Precisamos aprender que estamos interconectados. Precisamos de caminhos para encontrar contentamento e paz interior, para meditar e simplificar. Também precisamos servir aqueles que estão em sofrimento urgente. Precisamos fazer ambas as coisas. Apenas nosso coração pode nos dizer qual é o equilíbrio e ritmo correto a seguir. Para servir de forma sábia e não entrarmos em exaustão precisaremos de nossa meditação e nossa coragem.

A Vida Espiritual Requer Coragem

Equanimidade não é indiferença e compaixão não é piedade. A verdadeira espiritualidade requer que estejamos totalmente presentes para a vida. Começar a olhar diretamente para a situação do mundo não é uma questão de cerimonial ou de religião. A meditação nos ajuda a olhar profundamente para o pesar que existe agora em nosso mundo, e a olhar para nosso relacionamento individual e coletivo com ele, assumir testemunhá-lo, reconhecê-lo em vez de fugir. Sem lucidez e compaixão o sofrimento é imenso de suportar. Fechamos nossas mentes. Fechamos nossos olhos e corações.

Contudo, se quisermos fazer a diferença é necessário nos abrirmos a todos os aspectos da experiência. Para olhar o mundo honestamente, diretamente e sem retroceder, é necessário também olharmos para nós mesmos. Descobrimos que o pesar e a dor não estão apenas lá, externamente, mas também estão dentro de nós mesmos. Temos nosso próprio medo, preconceito, desejo, neurose e ansiedade. É o nosso próprio pesar. Ao nos abrirmos ao sofrimento, descobrimos o grande coração de compaixão.

No coração de cada um de nós existe um potencial para experienciar esta compaixão e totalidade. O problema é que ficamos tão ocupados e perdidos em nosso próprio pensar que perdemos a conexão com nossa verdadeira natureza. Quando nos reconectamos com nossa totalidade, nosso ser se expressa por si mesmo tanto na meditação como no compartilhar nós mesmos com os outros.
Dediquei a maior parte de meu tempo ensinando meditação. Anos atrás, quando milhares de cambojanos estavam fugindo da violência em sua terra natal somente para se depararem com fome e doenças em campos de refugiados na Tailândia, algo em mim falou, “Tenho de ir para lá,” e assim fui. Eu conhecia as pessoas e um pouco da linguagem local. Depois de ficar lá tentando ajudar, retornei para conduzir retiros intensos de meditação. Não precisei ponderar muito sobre se deveria ou não ir trabalhar nos campos de refugiados. Senti que aquilo tinha de ser feito, e eu fui e fiz. Foi imediato e pessoal.

Nos anos seguintes trabalhei na Palestina e Burma, em prisões e hospitais, e com crianças nas gangs de rua. É isto que eu tenho sido chamado a fazer junto com meu ensinamento em meditação. Este tem sido meu caminho. Mas não é correto para todas as pessoas. Alguns monges passam suas vidas em cavernas nos Himalaias incessantemente irradiando compaixão para o mundo. Outros administram orfanatos para crianças cujos pais morreram de Aids. Qual é a forma correta? O caminho espiritual não se apresenta a nós como uma prescrição, uma fórmula para cada um seguir. Não é uma questão de imitação. Não podemos ser Madre Teresa ou Gandhi ou o Buddha. Devemos ser nós mesmos. Devemos descobrir e nos conectar com nossa expressão única da verdade. Devemos aprender a ouvir e confiar em nós mesmos.

As Duas Grande Forças no Mundo

Existem duas grandes forças no mundo. Uma é matar. As pessoas que não tem medo de matar fazem guerras, governam nações e controlam muito da atividade de nosso mundo. Há uma grande força em não ter medo de matar. A outra fonte de força no mundo – a verdadeira força – está nas pessoas que não tem medo de morrer. São pessoas que tocaram a fonte de seu ser, que olharam para si mesmas de forma tão profunda que entenderam e reconheceram e aceitaram a morte e, de certo modo, já morreram. Viram além da separatividade da concha do ego, e trouxeram para a vida o destemor e o cuidado nascidos do amor e da verdade. Esta é a única força que pode se equiparar a alguém que não tem medo de matar.

Este é o poder de Nelson Mandela e Aung San Suu Kyi. Gandhi chamava este poder de “satyagraha”, a força da verdade, e foi a força que ele demonstrou em sua própria vida. Quando a Índia foi dividida, milhões de pessoas ficaram refugiadas – Muçulmanos e Hindus fugiam de um país para outro. Havia violência e desordens horríveis. Centenas de tropas foram enviadas ao Paquistão Ocidental para tentar reprimir a terrível violência, enquanto Gandhi se dirigiu para aquele que era então o Paquistão Oriental. Ele caminhou de vila em vila pedindo às pessoas pararem o derramamento de sangue. Então entrou em jejum. Disse que não ia mais aceitar alimentos até que a violência e a insanidade parassem, mesmo que isso significasse sua própria morte. E os motins pararam. Pararam por causa do poder de seu amor, por que Gandhi se importava com algo – chame de verdade ou vida ou o que desejar – que foi algo muito maior que ele próprio Gandhi, a pessoa. Este é o genuíno poder da prática espiritual, seja qual for a forma que tome. Viver alinhado com a verdade se torna mais importante do que viver ou morrer. Esta compreensão é a fonte de incrível força e energia, e será manifestada através de amor, compaixão, alegria e equanimidade.

Em umas das minhas viagens na Índia fui para a cidade santa de Benares pelo Rio Ganges. Ao longo do rio existem lugares onde as pessoas se banham num ritual de purificação e há também lugares onde as pessoas trazem os cadáveres para serem cremados. Eu tinha ouvido falar sobre estes lugares há anos e sempre tinha pensado que estar lá seria uma experiência muito forte. Fui levado rio abaixo em um pequeno barco até o lugar em que havia doze fogueiras ardendo. A cada meia hora um novo corpo era levado para o fogo enquanto as pessoas cantavam “Rama nama satya hei (a única verdade é o nome de Deus).” Fiquei surpreso. Não era de modo algum terrível; era pacífico, tranquilo e sensato. Havia um reconhecimento de que nascimento e morte são parte do mesmo processo e, portanto a morte não precisa ser temida.

Há uma alegria profunda quando paramos de negar os aspectos dolorosos da vida, e em vez disto permitimos que nossos corações se abram e aceitem a extensa gama de experiência humana: vida e morte, prazer e dor, luz e escuridão. Mesmo diante do tremendo sofrimento no mundo, pode haver uma alegria, que surge não de rejeitar a dor e buscar o prazer, mas de nossa capacidade de meditar e nos abrirmos à verdade. Prática espiritual começa permitindo a nós mesmos encarar nossa própria tristeza, medo, ansiedade desespero – morrer para as ideias do ego, e amar e aceitar a verdade das coisas como elas são. Tendo isto como nossa base, podemos ver a fonte de sofrimento em nossas vidas e no mundo ao nosso redor. Podemos ver a ganância, ódio e ignorância que produzem um senso de separação. Podemos também ver o fim do sofrimento, um reconhecimento da unidade de luz e escuridão, acima e abaixo, pesar e alegria. Podemos ver todas estas coisas sem apego e sem separação.

Devemos olhar como criamos e impomos a separação. Como temos tornado este um mundo do “Eu quero isto; eu quero me tornar aquilo; isto me deixará em segurança; isto me fará poderoso”. Raça, nacionalidade, idade e religião impõem a separação. Olhe para si mesmo e veja o que é “nós” e o que é “eles” para você. Quando existe um senso de “nós”, então existe um senso de “outro”. Quando podemos desistir disto, então podemos desistir da ideia de que força vem de termos mais de que os outros ou de termos o poder de matar outros. Quando desistimos disto, desistimos do estereotipo de amor como uma fraqueza.
Esta é a nossa aspiração e nossa tarefa – romper nossa fixação, condenação, identificação, nossas opiniões, e nosso senso de Eu, Mim, Meu. Precisamos ver que estamos todos juntos, entrelaçados. Então podemos agir efetivamente, até radicalmente, sem amargura ou auto justificação. Podemos estar motivados por um genuíno senso de cuidado e de perdão, e uma determinação de viver nossas vidas bem.

Alguns anos atrás, participei de uma conferência na qual um curador/xamã chamado Mad Bear (Urso Louco), foi convidado para dar uma palestra. Ele disse, “Para minha apresentação gostaria que começássemos saindo lá fora,” e todos saímos. Ele nos conduziu a um campo aberto e então nos pediu que ficássemos de pé silenciosamente, em círculo. Ficamos por um tempo em silêncio sob um vasto céu azul, circundados por campos de trigo que se estendiam até o horizonte. Então Mad Bear começou a falar, oferecendo uma oração de gratidão. Ele começou agradecendo as minhocas por arear o solo de forma que as plantas possam crescer. Ele agradeceu as gramas que cobrem a terra por impedir que a poeira sopre, por amortecer nossos passos, e por mostrar aos nossos olhos o verde e a beleza de sua vida. Ele agradeceu ao vento por trazer chuva, por limpar o ar, por nos dar a respiração da vida que nos conecta com todos os seres. Ele agradeceu ao sol e a lua e os rios e as pedras. Falou assim por quase uma hora, e ao ouvirmos, sentíamos o vento em nossas faces e a terra sob nossos pés, e vimos a grama e as nuvens, tudo com um senso de conectividade, gratidão e amor.
Este é o espírito da atenção plena. Amor ( em vez de apego), compaixão ( em vez de piedade), alegria (em vez de inveja), e equanimidade ( em vez de indiferença) infundem nossa consciência. Permitem nos abrirmos e aceitarmos a verdade de cada momento, sentir nossa profunda conectividade com todas as coisas, e ver a totalidade da vida. Quer estejamos sentados em meditação ou sentados em algum lugar protestando, aquela é a nossa prática espiritual a cada momento.

Fonte:
JACK KORNFIELD – Bringing Home the Dharma – Awakening Right Where You Are. Part II: Taking Up the Spiritual Path. Chap. 10 –The Near Enemies of Awakening: Nonattachment is not Indifference; 102-110.
Cortesia da equipe de Traduções Contemplativas – Trad.: Zita Freitas; Revisão: Lama Jigme Lhawang

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