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CARACTERÍSTICAS DA MENTE EMOCIONAL - Daniel Goleman - Ciência Contemplativa

CARACTERÍSTICAS DA MENTE EMOCIONAL – Daniel Goleman

Características da Mente Emocional

Daniel Goleman

Só recentemente foi elaborado um modelo científico da mente emocional que explica por que muitas de nossas ações são determinadas pela emoção – por que somos tão racionais num determinado momento e tão irracionais em outros – e também foi firmado o entendimento de que as emoções têm uma razão e uma lógica que lhe são tão peculiares. As duas melhores análises da mente irracional estão, talvez, em Paul Ekman, diretor do Laboratório de Interação Humana da Califórnia, em São Francisco, e me Seymour Epstein, psicólogo clínico da Universidade de Massachusetts. Embora cada um deles tenha trabalhado com diferentes indicadores científicos, do estudo dos dois podemos extrair uma lista básica de características que distinguem as emoções do resto da vida mental.

Uma Resposta Rápida e Simplificada

A mente emocional é muito mais rápida que a racional, agindo irrefletidamente, sem parar para pensar. Essa rapidez exclui a reflexão deliberada, analítica, que caracteriza a mente racional. No curso da evolução humana, essa agilidade, muito provavelmente, teve como objetivo exclusivo a mais básica decisão: o que merecia a nossa atenção e, uma vez vigilantes, quando, por exemplo, ao enfrentarmos um animal, decidir, em frações de segundos: eu como isso ou isso me come? As espécies que não foram capazes de uma reação imediata tiveram pouca probabilidade de deixar uma progênie que passasse adiante seus lentos genes de atuação.

As ações desencadeadas pela mente emocional carregam uma forte sensação de certeza, que é um subproduto de um tipo de comportamento bastante simplificado, de encarar determinadas coisas que, para a mente racional, são intrigrantes. Quando a poeira assenta, ou mesmo durante a reação, aí pensamos: “Por que fiz isso? – este é o sinal de que a mente racional percebeu o que aconteceu, mas não com a agilidade da mente emocional.

Como o intervalo entre o que dispara uma emoção e sua erupção é, em geral, praticamente nulo, os mecanismos que avaliam a percepção de um acontecimento são muito velozes, mesmo em tempo cerebral, que é calculado em milésimos de segundo. A constatação de que é preciso agir tem de ser automática e, de tal forma, que não chegue nunca ao nível da consciência. Somos tomados por uma reação emotiva “rápida e rasteira”, normalmente muito antes de sabermos, com exatidão, o que se passa.

Esse modo rápido de percepção perde em precisão para ganhar em rapidez. Baseia-se em primeiras impressões e reage ao panorama global ou aos seus aspectos mais gritantes. Capta tudo num relance, reage e não perde tempo com uma análise mais minuciosa dos detalhes. A grande vantagem, aí, é que a mente emocional é capaz de captar rapidamente uma emoção (ele está furioso comigo; ela está mentindo; isso está fazendo ele ficar triste) e, assim, de forma fulminante, dizer do que nos acautelar, em quem confiar, quem está com problemas. Ela é o nosso radar para o perigo; se nós (ou nossos ancestrais) fôssemos aguardar que a mente racional tomasse uma decisão, é possível não só que houvéssemos cometido erros — também teríamos desaparecido como espécie. Por outro lado, esse modo de percepção tem suas desvantagens— as impressões e julgamentos intuitivos, feitos num estalar de dedos, podem ser equivocados e dirigidos ao alvo errado.

Paul Ekman vê a rapidez com que as emoções se apossam de nós— antes mesmo que nos demos conta de que já se instalaram em nós — como uma adaptabilidade emocional essencial: mobiliza-nos para agir nas emergências, sem perda de tempo ponderando se ou quando reagir. Ekman desenvolveu um sistema capaz de detectar alterações sutis na musculatura facial e na fisiologia corporal, que ocorrem em milésimos de segundo após a ocorrência do fato que causou determinada emoção. Há, por exemplo, alteração no fluxo sanguíneo e nos batimentos cardíacos, que se iniciam rapidamente. Essa rapidez ocorre sobretudo nas emoções intensas, como naquela associada ao sentimento de medo diante de uma ameaça súbita.

Ekman afirma que, em termos técnicos, o auge da emoção dura um momento breve — segundos, e não minutos, horas ou dias. Segundo ele, as emoções teriam uma má adaptabilidade caso se apoderassem do cérebro e do corpo como um todo por muito tempo, sem levar em consideração as cambiantes circunstâncias. Se ficássemos tomados pelas emoções durante muito tempo e invariavelmente, apesar de já decorrido o fato que as desencadeou e independentemente do que mais se passasse à nossa volta, os sentimentos delas decorrentes seriam péssimos guias para a ação. Para que as emoções permaneçam em nós por mais tempo, o gatilho tem de ser mantido, ou seja, o sentimento — por exemplo, o luto pela perda de um ente querido — tem de ser continuamente evocado. Quando os sentimentos persistem durante muito tempo tornam-se um estado de espírito, uma forma contida. Os estados de espírito estabelecem um afeto, mas não formam percepções de maneira tão forte como ocorre no calor da emoção.

Primeiro os sentimentos – os pensamentos vêm depois

Já que a mente racional demora mais para registrar e reagir aos fatos do que a mente emocional, o “primeiro impulso”, em circunstâncias emotivas, não vem da cabeça, mas do coração. Há um outro tipo de reação emocional que não é tão rápido – fervilha e fermenta no pensamento antes de se configurar como sentimento. Esse segundo caminho que leva à eclosão de emoções é mais deliberado e, em geral, temos consciência do raciocínio que leva à emoção. A reação que se desencadeia é precedida de uma avaliação extensa: nossos pensamentos – o processo cognitivo — desempenham, no caso, um papel importante na determinação de quais emoções serão despertadas. Tão logo fazemos uma constatação “Este taxista está me roubando”, “Este bebê é lindo” —, a resposta emocional é adequada. Nesse processo mais lento, um pensamento mais articulado precede o sentimento. Emoções mais complexas, como o nervosismo e a apreensão diante de uma prova que teremos de fazer, seguem essa rota lenta, levando segundos ou minutos para se formarem — são emoções provocadas por pensamentos.

No processo de resposta rápida, ao contrário, o sentimento precede ou é simultâneo ao pensamento. Essa reação emocional do tipo “jogo rápido” assume o comando em situações com a urgência da sobrevivência primal. Eis o poder desse tipo de reação emocional: mobilizar-nos, num átimo, para enfrentar uma emergência. Nossos sentimentos mais intensos são reações involuntárias; não cabe a nós decidir quando vão acontecer. “O amor”, disse Stendhal, “é como uma febre que vem e vai, independente de nossa vontade.” Mas isso não ocorre só no amor, mas também na raiva e no medo que nos toma, em que temos a sensação de que algo aconteceu conosco, sem nossa deliberação. Esse tipo de circunstância serve até como álibi. “O fato de não podermos escolher que emoções teremos”, observa Ekman, permite que as pessoas justifiquem seus atos alegando terem estado sob o impacto da emoção.

Da mesma forma que há caminhos rápidos e lentos para o desencadeamento de uma emoção — pela percepção imediata e pela reflexão, respectivamente —, há emoções que convidamos para estarem conosco. É o caso, por exemplo, de sensações propositalmente provocadas, um recurso que os atores utilizam para, ao evocar coisas tristes, conseguirem chorar. Os atores são seres um pouco mais hábeis do que nós na arte de utilizar essa segunda rota para provocar a emoção — a sensação via pensamento. Embora não possamos facilmente determinar que tipo de emoção um pensamento vai desencadear, em geral podemos escolher no que pensar. Assim como as fantasias sexuais produzem sensações sexuais, as lembranças agradáveis nos alegram e os pensamentos tristes nos deixam sorumbáticos.

A mente racional, por outro lado, em geral não decide que emoções devem ter. Ao contrário, nossos pensamentos em geral nos chegam como um fait accompli. Diante disso, o que a mente racional pode fazer é controlar o curso de nossa reação. Salvo exceções, não decidimos quando ficar furiosos, tristes etc.

A mente emocional e seus símbolos – feito uma criança

A mente emocional possui uma lógica associativa; elementos que simbolizam uma realidade ou que de alguma forma lembrem essa realidade são, para a mente emocional, a própria realidade. É por isso que símiles, metáforas e imagens têm comunicação direta com a mente emocional, e também a arte – romances, filmes, poesia, música, teatro, ópera. Grandes mestres espirituais como Buda e Jesus, falaram ao coração de seus discípulos através da linguagem da emoção, ensinando por parábolas, fábulas e contos. Na realidade, o símbolo e o rito não fazem muito sentido do ponto de vista racional; são representações vernaculares de acesso ao coração.

Essa lógica do coração — ou da mente emocional — é muito bem descrita por Freud quando ele fala do “processo primário” de pensamento; é a lógica religiosa e da poesia, da psicose e da criança, do sonho e do mito (como disse Joseph Campbell, “os sonhos são mitos particulares, os mitos são sonhos públicos”) O processo primário é a chave para a abertura do significado de obras como Ulisses, de James Joyce: no processo primário do pensamento, as livres associações determinam o fluir de uma narrativa, um objeto simboliza outro, um sentimento vem sob a forma de outro sentimento, que toma seu lugar, o todo é representado por suas partes. Tudo é atemporal e não há causa nem efeito. No processo primário, na verdade, não existe o interdito, porque tudo é possível. A psicanálise aplicada é, em parte, a arte de buscar o significado dessas substituições, decifrando e desenredando-as.

Se a mente emocional segue essa lógica e suas próprias regras, com um elemento representando outro, as coisas não precisam, necessariamente, ser definidas através de sua identidade objetiva: o que importa é como são percebidas, as coisas são como parecem ser. A lembrança evocada pela percepção de alguma coisa pode ser muitíssimo mais importante do que a coisa “é”. De fato, na vida emocional, as identidades podem ser como um holograma em que uma parte evoca o todo. Como observa Seymour Epstein, enquanto a mente racional faz conexões lógicas entre causa e efeito, a mente emocional não faz qualquer discriminação. Liga coisa com coisa que, entre si, guardam uma longínqua similaridade.

A mente emocional atua, sob muitas formas, feito uma criança e, quanto mais criança, mais intenso é o seu comportamento. Uma dessas formas é o pensamento categórico, onde as coisas são em preto e branco, sem a coloração cinzenta intermediária; assim, alguém que fica mortificado por um faux pas pensará imediatamente “Eu sempre faço a coisa errada”. Um outro indício dessa “criancice” é o pensamento personalizado, ou seja, os eventos são vivenciados como dirigidos à própria pessoa — é o caso do motorista que, depois de um acidente, diz que “O poste telefônico veio direto na minha direção”.

Esse modo infantil de pensar se autoconfirma, na medida em que descarta ou ignora lembranças que possam abalar sua crença e se agarra em tudo que possa mantê-la. As crenças de mente racional, ao contrário, não são firmes; uma nova evidência pode alterá-las e substituí-las – a mente racional lida com fatos objetivos. A mente emocional, no entanto, considera que suas crenças são totalmente verdadeiras e, portanto, descarta qualquer coisa que lhes seja contrária. Eis por que é tão difícil fazer com que alguém, sob perturbação emocional, raciocine; não importa quão válida a argumentação do ponto de vista lógico – nada que não esteja enquadrado nas convicções emocionais do momento pode influir. Os sentimentos se autojustificam por uma série de percepções e de “provas” convincentes.

O passado dentro do presente

Na ocorrência de um evento que traga para a mente emocional, por um mínimo detalhe, fortes sensações do passado, a reação que se desencadeia é idêntica àquela vivida originalmente. A mente emocional reage ao presente como reagiu no passado. Isto é problemático, especialmente quando essa avaliação é rápida e automática, porque às vezes não percebemos que o que valeu antes agora não vale mais. Uma pessoa adulta que, durante a infância, sofreu castigos dolorosos e por isso aprendeu a sentir muito medo e antipatia diante de uma cara raivosa, terá sensações similares ao ver uma cara raivosa que, efetivamente, não constitua ameaça.

Se as sensações são fortes, então a reação que desencadeiam são óbvias. Mas se vagas ou sutis, é possível que não percebamos exatamente que emoção estamos tendo, ainda que ela esteja exercendo uma influência na forma como reagimos ao momento. Os pensamentos e as reações nesse instante estarão sendo influenciados por sensações do passado, mesmo que possa parecer que a nossa reação é devida unicamente às condições do momento presente. Nossa mente emocional aparelhará a mente racional para seus fins, e então justificaremos nossos sentimentos e reações — racionalizamos — diante do que está acontecendo, sem que nos demos conta das influências da memória emocional. Dessa forma, não temos a menor ideia do que realmente está ocorrendo, embora acreditemos piamente que sabemos, Nesses momentos, a mente emocional arrebata a mente racional, colocando-a a seu serviço.

A realidade de um estado emocional específico

A tarefa da mente emocional é, em grande parte, determinar um estado emocional específico, ditado por determinadas sensações que são dominantes num dado momento. A maneira como pensamos e agimos quando nos sentimos românticos é totalmente diferente da forma como nos comportamos quando com raiva ou abatidos. Na mecânica da emoção, cada sentimento tem um diferente repertório de pensamentos, de reações e mesmo de memórias. Esse repertório emocional específico se torna mais dominante nos momentos de intensa emoção.

A memória seletiva é um dos sinais de que esse repertório está ativo, parte do desempenho mental diante de uma situação emocional consiste em fustigar a memória e as opções para agir a fim de que as mais relevantes fiquem no topo da hierarquia e, desta forma, possam ser mais prontamente acionadas. E, como vimos, cada grande emoção tem sua assinatura biológica característica, um padrão de alterações avassaladoras no corpo à medida que a emoção ascende e um tipo exclusivo de sinais que o corpo automaticamente emite quando sob a emoção.

Fonte: Goleman, Daniel, ph.D. Inteligência Emocional: a teoria que define o que é ser inteligente. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2012. 

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